Amor: um tipo natural de meditação
Perguntaram a Osho: Como o fenômeno humano de se apaixonar pode ser transformado pelas pessoas numa meditação?
Esta é a maneira mais fácil. Na vida humana, o amor é o fenômeno mais próximo da meditação. No momento em que você se apaixona por alguém, o que realmente acontece? O que emana entre aqueles dois que caíram de amor um pelo outro? Eles abandonam os seus egos, pelo menos entre si; eles abandonam suas hipocrisias, suas máscaras. Eles querem estar juntos, praticamente uma alma dentro de dois corpos. Este é o desejo do amor.
E este é um belo momento para transformá-lo numa meditação. Apenas que ninguém jamais lhes disse isso. Na verdade, justamente o oposto foi dito a eles: que o amor é contrário à meditação, de tal modo que as pessoas apaixonadas jamais podem se tornar meditadoras.
As mesmas pessoas que tornaram o celibato espiritual, tornaram o amor não espiritual, algo sujo, condenado. Mas para mim as coisas são totalmente diferentes. O amor o ajuda a relaxar, o que é parte da meditação; o amor o ajuda a ser jovial, o que é parte da meditação; e pelo menos por alguns momentos o amor o ajuda a ser silencioso, o que é a parte essencial da meditação. E finalmente, se você atingir uma experiência orgástica ao fazer amor, isso lhe dará um vislumbre do que é meditação, mas ela é milhões de vezes mais do que isso.
Assim, para mim, o amor é uma experiência básica que pode ajudar vocês a se tornarem meditadores. As velhas religiões o evitam, e o evitam por uma certa razão. Se as pessoas puderem transformar o seu amor em meditação, então os sacerdotes, as igrejas e as sinagogas não serão mais necessárias, então as pessoas serão totalmente livres; nenhuma liderança espiritual será necessária. E existem milhões de sacerdotes pelo mundo, como parasitas da humanidade. E naturalmente eles lhe darão idéias erradas contra o amor, e lhe darão idéias de meditação, mas porque você não tem a experiência básica...
O amor é exatamente como quando você entra numa piscina; passo a passo você entra nas águas mais profundas. O piso da piscina é dividido em duas partes: uma para aqueles que não sabem nadar, de tal modo que a água fique até o pescoço, e a segunda parte para aqueles que sabem nadar.
Mas aqueles que desejam aprender a nadar precisam aprender na primeira parte, a qual não é para nadadores. Eles precisam aprender ali. Uma vez que tenham aprendido, então lentamente juntarão coragem e entrarão nas águas mais profundas, pois para uma nadador não importa o quão funda é a água; o nadador está sempre na superfície. A água pode estar a dez metros de profundidade, cinqüenta metros de profundidade ou dez quilômetros de profundidade; não faz nenhuma diferença para o nadador; faz diferença somente para o não-nadador. Além de um metro e meio, tudo é a morte. Mas a piscina é uma só – rasa, profunda –, ela é uma só. E a linha divisória somente é uma linha até você aprender a nadar.
Para mim, o amor e a meditação são exatamente assim. O amor é o espaço raso numa piscina para aqueles que não podem meditar. Mas este é o lugar para aprender meditação. E trata-se da mesma piscina, da mesma água, o mesmo tipo de fenômeno. Você simplesmente é incapaz de ir mais fundo, pois lhe fizeram ter medo até mesmo de entrar nela. A parte rasa foi condenada, e sem saber nadar, foi-lhe dito para pular na parte mais funda.
Assim, eles perturbaram a sua vida amorosa pela condenação e perturbaram a sua vida meditativa por pura estratégia: devido a você não saber nadar, você não pode ir tão fundo. E você não tem nenhuma experiência de silêncio, de paz, de pura alegria, um pouco de êxtase, algo orgástico – essas coisas lhe darão indícios de que a meditação não é um mito. Você a saboreou um pouco; é o mesmo campo de energia, e simplesmente você precisa ir mais fundo nele.
O que realmente acontece quando um casal se move no reino da experiência orgástica? O que realmente acontece? Cada ponto precisa ser entendido. O tempo para; por um momento o pêndulo não se move, e esse único momento parece ser praticamente a eternidade. As duas pessoas não são mais duas – por um momento. Elas se fundiram uma na outra; não existe pensamento na mente, por um momento; ela está toda vazia e silenciosa, e essas são as coisas que devem ser aprofundadas em meditação.
E uma vez que você as tenha saboreado, você ficará surpreso que isso não depende da outra pessoa. Algo acontece dentro de você, algo acontece dentro da outra pessoa, mas não é dependente. Se você puder sentar silenciosamente, se ao observar seus pensamentos puder dar um jeito de trazer um intervalo, uma parada, de repente você perceberá que o tempo novamente parou. E agora está em suas mãos, e não nas mãos da biologia. Você pode manter esse tempo parado tanto quanto quiser, e uma vez que conheça a chave secreta...
A chave é: nenhum pensamento, nenhum ego, nenhum tempo – você simplesmente é.
É por isso que nunca fui contra o amor. Fui muito condenado por isso, naturalmente, pois estava cortando as próprias raízes do negócio de todas as religiões.
Todas as religiões estão contra mim. A profissão delas depende da condenação do amor e da louvação da meditação. Elas sabem que você não pode atingir a meditação, e agora sabem que o seu amor é condenado, é um pecado. Você jamais vivenciará um fenômeno orgástico, então a meditação permanecerá apenas uma filosofia e a sua vida permanecerá sem amor, raivosa, cheia de rancor, pronta para explodir a qualquer desculpa, pois onde a sua energia irá?
Ela poderia ter se tornado paz, silêncio, alegria, bem-aventurança. Você não permitiu que ela se tornasse isso. Essa energia represada se transforma em veneno. É por isso que todo mundo é irritável, aborrecido, preocupado e tenso. A simples razão é que eles perderam a fonte natural de relaxamento.
Nenhum animal parece irritado, aborrecido, com raiva, pois eles não entendem a linguagem que os sacerdotes falam. Eles nunca ouviram que o celibato é espiritual. É claro, eles não podem atingir a meditação, mas são muito melhores do que aqueles seres humanos que poderiam ter atingido alturas meditativas, mas que perderam até mesmo a simples experiência biológica do orgasmo.
Essas são simplesmente indicações de suas possibilidades, de suas potencialidades. E é mais fácil experimentar com algo natural no começo, e então tentar algo que seja supernatural, o qual pertence à natureza mais elevada.
E uma vez que você saiba como ficar em silêncio, como ficar sem pensamentos, como estar num estado de não-tempo, não-mente, você vivencia uma imensa alegria orgástica, a qual nada tem a ver com o sexo; ela tem imensa pureza e inocência. Uma pessoa que tenha atingido essa pureza e inocência não tem necessidade de sexo. Para ela, o sexo não é mais um problema psicológico, mas também não existe proibição. Ela também pode desfrutar o sexo, e o desfrutará mais do que ninguém, pois o seu orgasmo se tornará imediatamente meditativo.
Tendo vivenciado o orgasmo meditativo – um fenômeno muito maior – o seu orgasmo sexual imediatamente desencadeará um orgasmo maior. Ela pode brincar com o sexo; não existe mal nisso. Não existe necessidade, mas também não existe proibição. Depende dela.
O orgasmo meditativo absorve a sua energia sexual, pois você não tem mais nenhum outra energia. Toda a sua energia é energia sexual, e esta vasta explosão de alegria simplesmente absorve toda a sua energia. Portanto, você não precisa se tornar um pervertido, não precisa fazer nenhum esforço para permanecer celibatário. A escolha é sua.
Se você quiser jogar os velhos jogos de vez em quando, está perfeitamente bem. Na verdade, talvez ter sexo de vez em quando devesse ser parte da vida de toda pessoa iluminada, pois isso mudaria a atitude de todo o mundo a respeito do sexo.
Sem isso, é muito difícil mudar. Dessa maneira, pode-se perceber que mesmo uma pessoa iluminada pode desfrutar o sexo. Não existe nada pecaminoso nele, e isso unirá numa ponte a pessoa iluminada com a não-iluminada. Pelo menos num ponto, ambas experienciam a mesma coisa. E a iluminada pode conduzir a não-iluminada para orgasmos maiores. Comece com esse pequeno, mas não pare aí.
O amor é um tipo natural de meditação, e a meditação é um tipo supernatural de amor.
Osho, em "The Last Testament
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